sábado, 17 de outubro de 2009

MST ocupa fazendo em Piraí

*Por Morales

Passava das quatro horas da madrugada deste sábado (10/10) quando cerca de 150 famílias organizadas pelo MST ocuparam a fazenda Pau D’Alho, situada no quilômetro 248 da Nova Dutra, no município de Piraí. O local foi declarado improdutivo após perícia feita em dezembro de 2008 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). No mesmo laudo é recomendada pelo INCRA sua desapropriação para fins de reforma agrária e futuro assentamento de trabalhadores rurais. Enquanto reunidos em grupos, crianças, jovens, trabalhadores e trabalhadoras fazem planos para dias melhores, entrevistamos os companheiros do MST que organizaram a ocupação e dirigem o movimento.

Boletim Marcelo Freixo - Por que ocupar a fazenda Pau D’Alho se o laudo do INCRA já se pronunciou favorável à sua desapropriação para reforma agrária e assentamento de sem terras?

MST – Esta fazenda é conhecida na região como “abandonada”. Ocupa uma área de mais de 697 hectares na qual não é plantado sequer um pé de feijão há anos, enquanto milhares de famílias de sem terra vivem acampadas em lonas na beira das estradas, aguardando ano após ano uma chance para poder trabalhar a terra. Não temos mais como esperar. Sabemos que só a emissão do laudo do INCRA não resolve a questão. Se os movimentos sociais não pressionam, suas resoluções não sairão do papel.

Qual é a situação da fazenda hoje?
Ela faz parte do espólio de Edes dos Santos, cujos filhos brigam na justiça com a ex- companheira do falecido proprietário e possuidora de outra fazenda na região. Enquanto isso, parte da terra foi arrendada a terceiros para a criação de bois. São aproximadamente 800 cabeças de gado ocupando mais de 697 hectares de terra. Pouco mais de um boi para cada hectare de terra, que equivale aproximadamente a um campo de futebol! E os trabalhadores rurais e suas famílias permanecem acampados sob lonas pretas!

O MST está iniciando agora uma Jornada de Lutas. Esta ocupação faz parte desta Jornada?
Sim, mas é preciso ressaltar que esta ocupação não é apenas para denunciar a não realização da reforma agrária e a tentativa de criminalizar o movimento. É para conquistar a terra e plantar legumes, frutas, arroz, feijão, café, flores, para criar aves, porcos, cabras, enfim, para garantir o alimento das famílias e comercializar o excedente nos municípios da região. Sem intermediários e sem agrotóxicos. Ou seja, alimentos orgânicos direto da agricultura familiar para o consumidor. Além disso, vamos investir na medicina alternativa com plantas medicinais existentes na região.

Quais as ameaças a este projeto?
Além da lentidão do governo federal no cumprimento do que determinam os laudos do INCRA, temos a ação dos proprietários na justiça. Entretanto, existe outro perigo maior. O vice-governador Pezão, que tem interesses eleitoreiros na região, já está prometendo a construção de um pólo industrial nesta terra. Nós não somos contra a industrialização do campo nem a geração de emprego. Ao contrário, acreditamos que assentando os trabalhadores rurais geramos emprego e ajudamos a diminuir a pressão social nas cidades. Serão famílias com teto, bem alimentadas, que estarão trabalhando e dinamizando a economia local, a exemplo do que já acontece em regiões dos estados de Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. E isto, sem a degradação do meio ambiente na região, já tão castigada pela atividade da CSN e o constante derramamento de resíduos tóxicos e poluentes no rio Paraíba do Sul.

Como está organizado o acampamento?
Aqui todo mundo tem responsabilidades. Formamos várias comissões que dividem o trabalho de acordo com suas aptidões. As decisões são todas coletivas e o resultado final é um sentimento de solidariedade, respeito e confiança na vitória, enquanto são elaborados planos para a produção, educação e cultura, saúde, meio ambiente etc. Mas, é de fundamental importância a chegada dos apoios, das visitas dos sindicatos, dos partidos e organizações políticas que apóiam o movimento, das igrejas, dos militantes dos movimentos sociais e do povo. Precisamos dar publicidade a nossa luta. Chame seus amigos do trabalho, seus colegas de faculdade, seus vizinhos e faça-nos uma visita.

*Morales é membro da equipe do Mandato Marcelo Freixo

Um comentário:

Anônimo disse...

Será que nessa fazenda também tem plantação de laranja.
Esse MST é uma vergonha mesmo

Antonio Olivares