sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sobre os olhares e os valores

As últimas notícias exibidas na TV me chocaram. O MST destruindo plantações em Fazenda e passageiros destruindo estações de trem no Rio.

Não consigo parar de me perguntar até quando os desfavorecidos desse país só serão olhados quando chegam a atos extremos. Até quando teremos nossos olhares viciados e só enxergaremos o lado que os interesses econômicos escusos querem nos mostrar? Num primeiro momento me perguntei por que eles chegaram a esse ponto. Seria mesmo necessária tanta destruição? “A tal fazenda não é produtiva?”, perguntou-me minha comadre. Foi então que me lembrei da conversa que tive com um dos coordenadores do MST que hospedei às vésperas de uma ocupação. Eu o questionei sobre algumas ações polêmicas e ele me disse que às vezes essa estratégia era a única maneira encontrada para chamar a atenção da mídia, do poder público e da sociedade para a necessidade da reforma agrária, da distribuição de terras e do modelo de agricultura do país. Admito que naquele momento tive dificuldade em aceitar. Mas fiquei calada, continuei amiga deles e até participei do dia da ocupação, veja só...

Agora, uns anos após, tenho dentro de mim de uma maneira muito clara, que se não é assim parece que ninguém nem lembra que a questão agrária existe. Pior que isso foi perceber o quanto ainda temos uma opinião maniqueísta, preconceituosa. Perdemos o foco do que é realmente importante quando ouvimos uma notícia. O MST destruiu pés de laranja em uma fazenda que utiliza terras da União para plantar e exportar laranjas impregnadas de defensivos e fertilizantes químicos. Não concordo com a violência para resolver nada. Mas me admira que a indignação maior se dê por conta da destruição dos pés de laranja e não pelo fato deles serem plantados em terras roubadas do povo! E é estranho aparecer móveis e utensílios quebrados e ninguém ter filmado! Filmaram a destruição dos pés que ninguém previa, filmaram a retirada dos trabalhadores sem terra e não filmaram a destruição do mobiliário! Será que foram mesmo os integrantes do MST ou os empregados da fazenda a mando do “dono” só para incriminar o Movimento?

Quando a depedração nas estações de trem no Rio aconteceu, em meio àquele cenário, uma emissora de TV mostrou uma moça, trabalhadora, trêmula dizendo que a falta e o atraso dos trens acontecia diariamente. Percebia-se que ela não havia quebrado nada, mas estava indignada com a forma como era tratada. E ninguém vai discutir o direito que essas pessoas têm a transporte de qualidade? Transporte é concessão pública e as pessoas precisam chegar a esse ponto para alguém notar que estão tendo horas ou até dias de trabalho descontados, que estão pagando e sendo prejudicadas? É muita gente sendo muito prejudicada todos os dias!

Nós em nossos lares estamos sempre prontos a concordar com a entonação de criminalização dada pelos âncoras de jornal. Temos muito definido dentro de nós quem é o mocinho e quem é o bandido em cada situação.

Eu fiquei me perguntando quais valores a sociedade cultiva? Idolatramos um Capitão Nascimento que mata e espanca dezenas de pessoas inocentes em um filme, executa criminosos em um país em que a pena de morte é ilegal. Lembramos dos que pagaram o mensalão, mas esquecemos dos que receberam e se bobear os reelegemos. Ou o nosso foco é muito equivocado ou ignoramos tudo o que não ameaça os nossos pequenos interesses.

Esquecemos de reformular e cultivar um Valor moral e ético pautado na fraternidade, não na religiosa, mas na que faz com que nos irmanemos, no mínimo, com os nosso compatriotas e nos preocupemos com o que acontece com eles. Precisamos cultivar valores políticos, não o partidário, mas os que nos coloca como corresponsáveis pelo que ocorre no mundo em que vivemos.

E ainda, precisamos pensar a violência como tudo o que, de qualquer forma, viola o direito de alguém. De quem quer que seja.

Mulher Ativa (enviado por email)

2 comentários:

Clementina disse...

algumas coisas que me ocorreram lendo:

- a Cutrale não só ocupou terras do Estado como plantou as laranjas quando viu que a desapropriação podia sair - o latifundío sempre fora improdutivo;

- o dono da Cutrale é um dos empresários mais ricos desse país e ainda faz grilagem;

- as vidas daqueles camponeses que não têm terra e dormem embaixo de lona valem menos do que os pés de laranja da Cutrale!!!!

- eu nunca dormi num acampamento de lona, mas já estive em um. é inimaginável que se acredite que alguém opte por viver assim (criando seus filhos) pelo "prazer" de difundir o vandalismo e a desordem;

- NENHUM assentamento nesse país foi feito até hoje sem que antes houvesse uma ocupação, isso explica a importância delas - para não dizer que são um direito;

- sobre os trens no rio, li isso em algum lugar ontem: "o que esperar de quem é tratado à chibatada pela concessionária que controla os trens? que reajam aos atrasos e ao desrespeito com flores?"

de acordo que a violência nunca é bem vinda. e certamente, tanto os camponeses do MST como os trabalhadores que dependem do trem, pensam assim. ocorre é que muitos deles, ao que me parece, já não suportam ser violentados diariamente.

Vitor Castro disse...

ontem, no rjtv da globo, as imagens mostravam claramente os policiais atirando bombas de gás contra as pessoas, na estação da Central do Brasil. eram as imagens mostrando um policial atirando contra umas pessoas que nem estavam fazendo manifestação, estava apenas parados e começaram a correr para fora da estação, umas pessoas chorando, enquanto vinha a voz do policial falando que as bombas foram jogadas porque os manifestantes jogavam pedras portuguesas na polícia: "vocês tinham que ver a quantidade de pedras que jogaram contra nós". a globo, que estava lá desde cedo, não filmou nenhuma, não entendi porque...