sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

E assim começa a indiferença

E assim começa a indiferença

Um homem estava esperando o ônibus para trabalhar. Do outro lado da rua uma família revirava o lixo do supermercado para fazer o seu café da manhã. Eram 4 pessoas: um pai, uma mãe, um filho e filha.

Ônibus atrasado, o homem começou a observar a família. Percebeu então que havia uma padrão na forma como a família retirava alimentos do lixo. Primeiramente, eram os pais investigavam o lixo e depois as crianças. Para quem observava, aquilo era um sinal que os pais tentavam proteger seus filhos selecionando aquilo que no lixo poderia não ser apropriado para os seus descendentes.

Do lixo saiu uma surpresa para os filhos. O pai entregou a sacola para eles e os mesmos acharam um pacote de Danoninho. A cara de felicidade dos filhos tinha a grandeza da surpresa do observador. Logo, ele concluiu que os pais tinham feito uma surpresa ao não pegarem o Danoninho deixando-os descobrirem por si só o que a contingência tinha preparado para eles.

Nesse dia o homem não foi trabalhar. Voltou para a casa e pegou a Bíblia e achou que Jesus tinha concordado com ele no aspecto da miséria. Foi até a instituição que se dizia representante de Deus na terra e interpelou o padre sobre a condição daquela família. O padre então foi para o departamento de Assistência social da igreja e abriu uma lista. Dezenas, centenas, milhares de pessoas estavam na situação da família descrita pelo homem. O padre disse que a Igreja recebe cada vez mais solicitações de ajuda e que a família em questão entraria numa lista de espera para ser ajudada.

A Igreja não foi a salvação do nosso homem. Ele voltou para a casa e olhou a sua biblioteca. Sempre soube que havia um tal de socialismo e um tal de Karl Marx que destrinchara o funcionamento do sistema capitalista. Sendo um leitor ávido, o homem compreendeu que a miséria não era uma situação de erro do sistema. Era uma característica inerente dela própria. Miséria ocasionada pela impossibilidade do proletariado de se transformar em força produtiva. Agora ele sabia disso, mas não sabia como mudar a situação.

Soube então que havia uma revista do super-homem em que o tema consistia no combate a pobreza: o Supermann conclui que é capaz de acabar com a fome em todo o mundo. O homem lendo o super-homem frustrou-se ao saber que nem o mais poderoso poderia acabar com o problema. Revoltado pela sua incapacidade de pensar numa solução coletiva, o homem procurou questionar o comportamento de cada amigo seu em relação à pobreza. Sempre que perguntava a seus amigos sobre o problema, uma situação se repetia: os amigos olhavam bem para a cara do homem e perguntava se ele estava de sacanagem ao perguntar uma coisa dessas. Estamos todos aqui felizes e contentes e você vem perguntar sobre uma coisa que sempre existiu. Olhe os fatos, sempre existiu a fome.

Como última tentativa, nosso homem tentou pensar então contra os fatos. Voltou-se então para Rousseau um dos primeiros pensadores a imaginar aquilo que não existia. Se a desigualdade entre os homens é tão óbvia, pensaremos então na igualdade de todos. Se a miséria é um companheira de todas épocas, pensaremos uma sociedade em que a miséria seja abolida.

No dia seguinte o homem voltou a sua rotina. No caminho para o ponto de ônibus deparou-se com a família. Sabiamente, ao perceber que a família olhava para ele, nosso homem desviou o olhar mirando ao horizonte. Todas as discussões sobre a miséria e a fome tinham sumido da cabeça dele. Olhar para o horizonte tornou-se uma metáfora para as pessoas que enxergam o futuro. Hoje, nosso homem olha para o horizonte como forma de não olhar o presente. E assim começa a indiferença de uns para com os outros.

3 comentários:

Anônimo disse...

PARABÉNS PELO ÊXITO NA AÇÃO MOVIDA PELO VEREADOR!!!!! ESPEREM QUE ISSO SIRVA DE INCENTIVO A VCS......

"Isto posto, JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO AUTORAL, NA FORMA DO ART. 269, I, DO CPC. Sem custas e honorários. Intimados os presentes e notificados de que, ....."

AH, FICA UM PEDIDO, PUBLIQUEM A SENTENÇA, NO JORNALÇ E NO BLOG.

ABRAÇO

Anônimo disse...

(...) a ação dos réus, longe de caracterizar ofensa à honra, está amparada nos Direitos e Garantias Fundamentais da Constituição da República, no artigo 5º e art. 220, parágrafo 1º, requerendo seja julgada improcedente a ação. Passo a decidir: Inicialmente, rejeito a preliminar argüida (...). Trata-se, na verdade, de pedido de indenização por dano moral decorrente de publicação, no blog intitulado blogdovq.blogspot. com, Valença em Questão de matéria com o tema ´O Concidade e a mascara governista´ e que teria causado sofrimento ao autor por ter sido veiculada matéria em tom ofensivo e por estar ele na condição de agente político (vereador), destacando alguns trechos da matéria com o subtítulo ´A quem eles querem enganar´. (...) Com isto, foi erigido à condição de direitos fundamentais o direito de comunicação e os direitos da personalidade à luz dos incisos IX e X do artigo 5º da Constituição Federal, respectivamente. (...) No caso vertente, concluímos pela inexistência de mácula à honra e imagem do autor, pois a matéria divulgada no blog, não teve a intenção de desmerecer a função do autor e muito menos trazer prejuízo a sua imagem, ainda mais na condição de vereador . (...) Após, cumpridas as formalidades legais, dê-se baixa e arquive-se.

Anônimo disse...

Passei por aqui e não entendi nada acima.Da pra fazer um resumo do tema em questão (Não é Valença em questão).