terça-feira, 31 de agosto de 2010

Ocupação Carlos Mariguella é retirada de prédio do INSS no centro do Rio

As 60 famílias que ocupavam um prédio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que estava há 15 anos desativado no centro do Rio, foram retiradas nesta manhã (30) por uma operação da subprefeitura para a reintegração de posse do edifício. A ação contou com a participação da Polícia Federal e policiamento fortemente armado, mas não houve resistência na desocupação do prédio.

Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, os moradores foram notificados há um mês e agora vão passar por uma triagem em Paciência, na zona oeste do Rio, onde serão avaliados os encaminhamentos.

Muitos moradores criticam os abrigos da prefeitura, e se queixam de que nunca foram assistidos pelo poder público. Alguns deles passaram a morar na ocupação pela proximidade com o centro da cidade, devido a falta de dinheiro para a passagem de volta à Baixada Fluminense, a fim de arrumarem seu sustento nas redondezas. Os moradores reclamam da falta de alternativas nas negociações, e reivindicam o aluguel social para procurarem uma moradia mais digna.

O subprefeito do centro da cidade, Thiago Barcellos, afirmou que a ação trará mais tranquilidade aos moradores da região e o imóvel será isolado com patrulhamento constante da guarda municipal e polícia militar.

“Estamos ordenando um espaço que trazia muitos problemas, ninguém sabia o que as pessoas faziam aí dentro. As pessoas vão ser encaminhadas para o abrigo, onde serão tomadas as medidas que atendam a cada família com sua situação particular”, informou Barcellos.

Ainda de acordo com o subprefeito, que não soube dizer por que o prédio está desativado há tantos anos, os moradores estavam num lugar inabitável em condições muito precárias: sem água, sem esgoto, sem luz, sem nenhum tipo de infraestrutura. Para ele, é inconcebível que essas pessoas morem num lugar tomado por lixo e ratos. Barcellos avalia que “por mais que não seja a casa delas o abrigo, vai ser muito melhor do que o prédio onde estavam”.

O coordenador da Central de Movimentos Populares, Marcelo Braga, reconheceu as condições precárias da ocupação e criticou as políticas municipais em relação à moradia popular.

“Isso reforça a necessidade de organização enquanto movimento, porque só com ela poderemos resistir a esses ataques que são claramente de transformar a cidade num espaço de investimento financeiro. O grupo que está no poder pensa a cidade não para a maioria da população, por isso ele prefere que esse pessoal saia daqui e vá para longe do que transformar o prédio em moradia e efetivamente tentar mudar a vida das pessoas. Porque para eles enfeia a cidade, numa área que é claramente turística”, criticou Braga.

Segundo alguns moradores, essa é a terceira ocupação retirada do imóvel. A atual, chamada Carlos Mariguella, iniciou em 2007 com movimentos que lutam pela moradia mas com o tempo foi perdendo sua organização. Os relatos dos moradores da região e de alguns dos ocupantes é que o tráfico de drogas atuava no local, no entanto era a minoria.

Ricardo Félix, que participou da ocupação há três anos, lembrou que no início eram feitas assembleias na Central Única dos Trabalhadores (CUT) e movimentos sociais apoiavam a iniciativa, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), e havia mutirões. No entanto, ele pondera que com o tempo o coletivo foi ficando abandonado e faltou organização.

“Apesar de uma ou outra informação menos digna que é falada da ocupação, o que tem aqui são famílias”, ponderou Félix.

As pessoas, em sua maioria mulatas e negras, foram tirando seus pertences com ar de resignadas, deixando televisões, colchões, sofás, etc, espalhados pelas ruas. Muitas crianças, filhas dos desabrigados, circulavam na porta do prédio sem saber o que acontecia. Um dos jovens moradores, que não quis se identificar, está com receio do que vai acontecer com os moradores.

“Querem levar a gente para abrigo, lá em Santa Cruz [zona oeste]. Tem gente que garimpa aqui na rua para arrumar dinheiro, não houve resistência. Respeitamos os órgãos públicos, mas não estão respeitando o nosso direito de cidadão. A maioria das crianças estuda no brizolão [colégio público] e na São Martinho, instituição que atende os jovens da região”, observou.

O INSS informou em nota que a Gerência Executiva Rio de Janeiro (Centro) pretende vender o imóvel. A idéia é vendê-lo para um órgão público e, se não houver interessado, leiloá-lo. O valor do imóvel será avaliado pela Caixa Econômica Federal.

De acordo com o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (Iterj), órgão responsável pela regularização fundiária no Estado, existem 29 ocupações com movimentos pela moradia e pessoas sem alternativas de habitação no centro do Rio. A estimativa do Iterj é de que no existe um déficit habitacional no estado de 478 mil moradias, cerca de 600 mil moradias passíveis de regularização fundiária: calculando 3 por família, dá 1.800.000 pessoas.

Fonte: sítio do Fazendo Media

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