Autores: Amanda Rossi e Daniel Bramatti Reproduzido do site do Estado de São Paulo
Construtora Andrade Gutierrez é a que mais doou: R$ 23 milhões para direções de 14 partidos; OAS foi a segunda maior financiadora
Seis dos dez maiores doadores privados para campanhas de prefeitos e
vereadores em todo o País são empreiteiras. A líder do ranking é a
Construtora Andrade Gutierrez, de acordo com levantamento do Estadão Dados a
partir da segunda prestação de contas parcial, referente ao período até
o início de setembro. Além dos repasses diretos para os candidatos,
foram consideradas as doações para comitês eleitorais e partidos, as
chamadas doações ocultas.
A Andrade Gutierrez doou pouco mais de R$ 23 milhões. Todo o recurso
foi para as direções de 14 partidos. Nenhum repasse foi feito
diretamente para os candidatos. Dessa forma, não é possível saber
exatamente quem foi beneficiado pelas doações da construtora. O
governista PMDB e o oposicionista PSDB, juntos, receberam mais da metade
dos recursos da Andrade Gutierrez. O PT ficou com apenas 6% do total.
A segunda colocada no ranking de financiadores foi a OAS, também do
setor de construção civil, que doou R$ 21 milhões. Nesse caso, 76% dos
recursos foram para doações ocultas, e 24% destinados para campanhas de
candidatos específicos. Nos repasses da OAS feitos diretamente para
candidatos, os petistas se destacam. Da lista de 18 beneficiados, 13 são
do partido da presidente Dilma Rousseff. O que recebeu o maior quinhão
foi Fernando Haddad, candidato à Prefeitura de São Paulo, com R$ 1
milhão. O tucano José Serra (PSDB), adversário de Haddad, ficou com R$
750 mil.
Obras públicas. Levando-se em conta o total de
doações da empresa - para candidatos, comitês e partidos -, o PT também
ficou em primeiro lugar, com 36%. A seguir vieram o PMDB, com 23%, e o
PSDB, com 11%. Nos repasses da OAS para comitês, o Comitê Financeiro
Único do PRB de São Paulo, partido de Celso Russomanno, recebeu R$ 500
mil.
Andrade Gutierrez e OAS têm nos contratos com o setor público a
principal fonte de suas receitas. A primeira, por exemplo, atua na
construção de hidrelétricas, implantação de linhas do programa Luz Para
Todos e reformas de aeroportos, entre outros. A segunda lista entre suas
principais obras a intervenção urbanística nas favelas do Complexo do
Alemão, no Rio de Janeiro, um projeto do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), impulsionado principalmente pelo governo federal.
Top 10. No grupo dos dez maiores doadores privados,
as empreiteiras são responsáveis por 75% do valor doado. Além da Andrade
Gutierrez e da OAS, aparecem na lista Queiroz Galvão, Carioca
Christiani Nielsen, UTC, WTorre. Completam o ranking dois bancos
(Alvorada, controlado pelo Bradesco, e BMG), um frigorífico (JBS) e uma
empresa de importação e exportação (Coimbra).
No total, as dez empresas alimentaram campanhas com R$ 92 milhões até
o começo deste mês. Desse valor, apenas 14% foi encaminhado diretamente
para as contas de candidatos, e o restante para comitês e partidos, que
atuam como intermediários e impedem que se conheça as ligações entre
financiadores e financiados.
A prevalência de doações ocultas entre os dez maiores financiadores
de campanha não se repete entre o total de doadores. Até agora, 436 mil
empresas e pessoas físicas fizeram doações, no valor total de R$ 1,3
bilhão. Cerca de três quartos deste valor foi repassado diretamente para
os candidatos. Os comitês eleitorais receberam 12% e os partidos 14%,
respectivamente.
Até as eleições, o TSE não vai divulgar dados adicionais da prestação
de contas, já que a legislação prevê apenas a publicação de duas
parciais. "E as doações que vão acontecer na reta final da campanha, que
podem ser as maiores? Os eleitores não vão saber", comenta o juiz
eleitoral Márlon Reis, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. "A
doação feita por vias eletrônicas para o candidato e publicadas em
tempo real na internet poderiam permitir que as pessoas soubessem para
onde vai o dinheiro".
Procurada pelo Estado, a Construtora Andrade
Gutierrez afirmou que "sua participação no processo eleitoral é
realizada de forma oficial, de acordo com as regras da legislação
brasileira e do TSE". O Estado não obteve resposta da OAS e do Banco BMG. O Bradesco disse que não comentaria o assunto.
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